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sexta-feira, 3 de abril de 2015

Correspondência


"Escrever, para quem? a. Para os contemporâneos (cartas e publicações) b. Para a posteridade (relevos egípcios e testamentos) c. Para si mesmo (rabiscos infantis, diários e cadernos de apontamentos)." Nota de Gauguin sobre o intercâmbio de quadros com Van Gogh  Carta de Saul Bass (1920-1996) a Stanley Kubrick (1928-1999) apresentando cinco novos projetos de cartazes para o filme O iluminado (1980). Na década de 50, Bass criou aberturas de filme e cartazes de grande efeito visual usando recortes de papel para dois longas-metragens de Otto Preminger, The Man with the Golden Arm (1955) e Anatomy of a Murder (1959). Bass desenvolveu uma linguagem simplificada e simbólica do design, que tentava exprimir as qualidades essenciais dos filmes  Nos anos 1990, o FBI (Federal Bureau of Investigation) usou um software digital chamado Carnivore para vigiar o tráfego da internet. Esta tecnologia orwelliana deu a possibilidade aos agentes de ler mensagens de correio eletrônico dos cidadãos comuns. Como resposta a esta forma de vigilância, uma equipe de artistas chamada RSG, Radical Software Group, desenvolveu CarnivorePE (PE significa Personal Edition). O CarnivorePE funciona como uma plataforma ou uma ferramenta para os artistas de New Media Art. Onde o FBI usa o seu software para vigiar os suspeitos, o RSG transforma a atividade encoberta da vigilância em expressão artística  Carta ao vento, xilogravura de Torii Kiyohiro, período Edo (1615-1868). O haiku, pequeno poema em torno da figura e a caligrafia concebida em ritmos rápidos, obedeciam aos estilos dominantes da época. Gravuras como esta, revelando partes normalmente encobertas do corpo feminino, técnica conhecida como abunae (imagens "perigosas") eram populares no Japão no século 18  Zuzu Angel (Zuleika Angel Jones, 1921-1976), estilista cujo filho foi preso, torturado e morto por membros do Centro de Informações de Segurança da Aeronáutica (Cisa) em 1971, e que deixava na casa do compositor Chico Buarque bilhetes relatando sua história. No último deles, em 1975, alertava para a possibilidade de ser morta pelos mesmos assassinos de seu filho, Stuart Edgart Angel Jones. Zuzu foi silenciada em um suposto acidente de carro. Em 1998, a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos julgou o caso e reconheceu o governo militar como o responsável pela morte da estilista. Angélica (1977), de Chico Buarque e Miltinho, canção composta para Zuzu Angel: Quem é essa mulher / Que canta como dobra um sino? / Queria cantar por meu menino / Que ele já não pode mais cantar.
(Catálogo da exposição A arte da escrita, Unesco, 1965) / © Saul Bass (Stanley Kubrick / LACMA / Charlote e Peter Fiell, Design do século XX, Taschen, 2000) / © RSG ( Amalgamatmosphere, 2001, cliente da CarnivorePE por Joshua Davis, Branden Hall e Shapeshifter / Mark Tribe e Reena Jana, New media art, Taschen, 2010. Link RSG) / Torii Kiyohiro (Carta ao vento, xilogravura policromada, tinta e cor sobre papel, c. 1751-1764, British Museum) / Zuzu Angel (Reprodução / Chico Buarque: O tempo e o artista, Regina Zappa, Biblioteca Nacional, 2004)